A cirurgia de redução de estômago é o
método mais usado no Brasil para tratamento de obesos com IMC (Índice de Massa
Corporal) acima de 40. Um grupo de pesquisadores do Departamento de Nutrição da
UnB (Universidade de Brasília) acompanhou 80 pacientes que operaram há mais de
dois anos e, segundo a nutricionista Fernada Bassan, 73% voltaram a engordar,
sendo que 23% tiveram ganho de peso significativo, ou seja, 10% acima do menor
peso que atingiram após a cirurgia. “O paciente precisa ter consciência de
que só a cirurgia, sem mudança de hábitos alimentares, não vai funcionar”,
diz.
O estudo detectou duas variáveis que
contribuem para o ganho de peso após a cirurgia: a má qualidade da alimentação
e o tempo passado desde a operação. A cada ano que passa, o ponteiro da balança
sobe um pouco mais. “O tempo após o procedimento é diretamente
proporcional ao ganho de peso”, afirma Bassan. “Isso mostra que mesmo
tendo cuidado, a pessoa vai ganhar”. Essa operação, chamada de redução
bariátrica, usa grampos para isolar boa parte do estômago e cerca de 100
centímetros do intestino delgado. Assim o corpo comporta – e absorve – menos
alimento.
O processo é irreversível, mas o ganho de
peso pode ser favorecido pela ingestão de produtos que não saciam, mas são
calóricos, como bebidas alcóolicas e açúcares. Engordando, o paciente também
pode sofrer uma dilatação na ligação entre o estômago e o intestino que lhe
permite acomodar mais comida.
A professora Kênia Baiocchi afirma que uma
dieta saudável pode reduzir os efeitos do tempo pós-cirurgia, ainda que não
totalmente. “O estudo reforça que a cirurgia é só um facilitador. Há risco
de reganho de peso principalmente entre aqueles que não aproveitam o tempo para
adotar um estilo de vida mais saudável. Mas a qualidade da dieta não garante
emagrecimento. É apenas um amenizador”, explica.
Perder peso não é o único
parâmetro
De acordo com a Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o principal objetivo da cirurgia é
melhorar a qualidade de vida do paciente através da compensação de problemas de
saúde que o acompanham, chamados de comorbidades, tais como hipertensão
arterial, diabetes, colesterol e triglicérides alterados, apneia do sono e
doenças cardiovasculares. Portanto, a perda de perdo não é o único parâmetro
para avaliar o resulto do tratamento cirúrgico do paciente.
Em comunicado, a SBCBM esclareceu também
que o aumento de peso no longo prazo dentro de limites é aceitável. Portanto, o
reganho de até 10% do peso perdido pode ser considerado normal e faria parte de
uma adaptação do organismo ao novo metabolismo resultante da cirurgia.
Reduzindo
o problema
Para o paciente que está reengordando, existem
alguns tratamentos que, quanto antes realizados, mais rapidamente terão
efeitos.
O bom acompanhamento clínico, nutricional e
terapêutico (psicólogo/psiquiatra) é fundamental para interromper o processo de
reengorda. Em alguns casos, ainda será necessária a volta da administração de
inibidores de apetite.
Uma nova cirurgia também pode ser realizada, porém
o Dr. Rosenbaum explica que o procedimento deveria ser o último a ser
considerado, a não ser que esteja havendo falha mecânica – como dilatação do
estômago ou anastomose (ligação do estômago com o intestino).
“Na maioria das vezes, os pacientes vão perder
peso de qualquer maneira, durante o primeiro ano, sem muito esforço”,
explica o médico.
“Mas é preciso ter cuidado. Com o passar do
tempo, quem não modifica seus hábitos físicos e nutricionais volta a engordar,
pois o organismo atinge um estágio de equilíbrio, fazendo com que o metabolismo
fique mais lento,” afirma Dr. Paulo Rosenbaum.