O Globo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou em bordão a frase “nunca antes na História deste país”, mas, neste primeiro ano de governo, a presidente Dilma Rousseff poderia apoderar-se do jargão. Ela foi a mais bem avaliada presidente num primeiro ano de mandato — e citada também entre as personalidades relevantes na eleição feita pelos jornais mais influentes da América Latina, o Grupo de Diários América (GDA). Dilma superou seu próprio padrinho, e desfez-se de sete ministros em 12 meses, sendo seis demissões por suspeitas de irregularidades.
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O novo jeito de fazer política bem diverso de outros presidentes
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Eleita para ser a continuidade do governo Lula, Dilma herdou vários problemas de seu antecessor, e a benevolência com o padrinho não se estendeu aos apadrinhados do ex-presidente. Considerada dama de ferro, Dilma agiu sem complacência com os que pisaram fora da linha, apontando-lhes o caminho da porta de saída. À exceção de seu amigo Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, suspeito de prática de tráfico de influência em suas atividades de consultoria, que lhe renderam R$ 2 milhões em 2009 e 2010, como O GLOBO denunciou.
O novo jeito de fazer política bem diverso de outros presidentes, mais levados à contemporização estremeceu, no início, a base governista, mas solidificou no imaginário popular a ideia de que Dilma não é complacente com o erro.
Viagens no Brasil foram por 13 estados
O novo estilo, mais voltado a assuntos técnicos do que propriamente políticos deixou sem norte os que tinham em Lula uma referência. Com discurso sem apego popular, e com acessos de irritação visíveis em todas as cerimônias e reuniões, Dilma foi o inverso de seu padrinho.
Além do jeito menos carismático de se expressar, foram cerca de 200 discursos no ano, Dilma demorou a ganhar gosto por uma das paixões de Lula: as viagens. No Brasil, foram 13 estados, com concentração de compromissos em Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas. Em seu périplo, deixaram de lado estados como Piauí, Tocantins e Goiás, vizinho ao Distrito Federal. No cenário internacional, a agenda foi intensificada no segundo semestre. Dilma andou por 15 países e introduziu rotina diferenciada da de Lula: o gosto pelo turismo, fazendo questão de conhecer museus, palácios, galerias e restaurantes.
Para 2012, a agenda prevê reuniões multilaterais, com grupos como G-20 no México, Brics na Índia, e Mercosul na Argentina. As bilaterais vão contemplar reunião com o presidente Barack Obama, para retribuir a visita do americano a ela este ano, e possivelmente uma visita a Cuba.
Aficionada por números, a presidente economista não se deu muito bem com eles em dois medidores de eficiência do país: crescimento e inflação. O descalabro fiscal do ano passado a impeliu a cortar gastos de R$ 50 bilhões, reduzindo o ritmo do crescimento, o que, por contágio, acabou gerando demanda reprimida, aumentando a inflação.
Ao desembarcar em solo estrangeiro, levando na bagagem o trunfo de manter um crescimento positivo no Brasil, Dilma passou a ser ouvida pela comunidade internacional. A lição apregoada é a mesma: para sair da crise, os países devem apostar em medidas que gerem crescimento e não apenas contenção de despesas.
Para o professor Ricardo Caldas, da UnB, o Brasil é ouvido no exterior justamente porque mantém seu mercado aquecido e é atrativo para os países que enfrentam retração. Por isso, Dilma pode ganhar ainda mais espaço.
No meio de todas as pendengas políticas e econômicas, Dilma conseguiu pôr de pé algumas das promessas de campanha, como o Brasil Sem Miséria; o Programa de Fortalecimento da Rede de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer de Colo do Útero e de Mama; o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec); a Rede Cegonha; e o Plano Brasil Maior. Outro ponto positivo foi a criação da Comissão da Verdade e a Lei de Acesso às Informações Públicas. Outras, porém, ainda estão na intenção, como a aprovação do Fundo de Previdência dos Servidores Federais e da Lei Geral da Copa.
Ricardo Caldas avalia que neste primeiro ano de governo Dilma acumulou pontos positivos em termos políticos.
— Do ponto de vista político, ela foi vencedora porque conseguiu reverter a favor dela coisas delicadas, como a troca de ministros — disse. — No imaginário popular, ela agiu com firmeza e não compactua com a corrupção. Se vai continuar agindo assim no futuro, é outra questão.
No entanto, Caldas observa que esse ganho político pode se perder se houver problemas com a economia:
— No governo Lula, a prioridade era reduzir a inflação à menor possível. No governo Dilma, a preocupação é apenas deixá-la dentro da meta.