PML Brasil 247
O
voto de Edson Facchin, ontem, quando validou os atos tomados por Eduardo Cunha
no encaminhamento do impeachment, tem um alcance maior do que se costuma
avaliar. Facchin chegou a corte, em maio, como um magistrado de posições
garantistas, corrente jurídica que faz do respeito aos direitos fundamentais
uma questão absoluta — e por essa razão foi alvo de ataques que beiravam a
fúria por parte de senadores da oposição que fizeram sua sabatina.
voto de Edson Facchin, ontem, quando validou os atos tomados por Eduardo Cunha
no encaminhamento do impeachment, tem um alcance maior do que se costuma
avaliar. Facchin chegou a corte, em maio, como um magistrado de posições
garantistas, corrente jurídica que faz do respeito aos direitos fundamentais
uma questão absoluta — e por essa razão foi alvo de ataques que beiravam a
fúria por parte de senadores da oposição que fizeram sua sabatina.
Ontem, Facchin assumiu outra postura. Rejeitou o pedido
de que Dilma possa ter direito a defesa prévia antes da abertura do processo na
Câmara de Deputados. Isso quer dizer que, na prática, a presidente deverá
permanecer em silêncio os debates do plenário, que devem concluir pela fatídica
votação de dois terços para o caso ter prosseguimento. Acusado sem direito a
defesa? Sem contraditório, natural em todas as etapas de um processo? Pois é.
de que Dilma possa ter direito a defesa prévia antes da abertura do processo na
Câmara de Deputados. Isso quer dizer que, na prática, a presidente deverá
permanecer em silêncio os debates do plenário, que devem concluir pela fatídica
votação de dois terços para o caso ter prosseguimento. Acusado sem direito a
defesa? Sem contraditório, natural em todas as etapas de um processo? Pois é.
O ponto importante, no entanto, envolve o papel do
Senado. Nesse ponto, a decisão de Facchin é um retrocesso em relação a situação
vigente no país, assumindo uma postura que vai no sentido contrário a evolução
do direito e defesa de garantias. Vamos concordar que há ou pode haver um
debate sobre a função do Senado num caso de impeachment.
Senado. Nesse ponto, a decisão de Facchin é um retrocesso em relação a situação
vigente no país, assumindo uma postura que vai no sentido contrário a evolução
do direito e defesa de garantias. Vamos concordar que há ou pode haver um
debate sobre a função do Senado num caso de impeachment.
Pelo artigo 86 da Constituição, pode-se concluir que
apenas a Câmara tem algo a dizer sobre a abertura de um processo com o
presidente da República. Ali se diz que “aprovada a acusação contra o
presidente, será ele submetido a julgamento perante o STF.” Ocorre a
mesma Constituição diz, em seu artigo 52, que “compete privativamente ao
Senado Federal processar e julgar o presidente e o vice-presidente.” Há
uma dúvida? Claro que há.
apenas a Câmara tem algo a dizer sobre a abertura de um processo com o
presidente da República. Ali se diz que “aprovada a acusação contra o
presidente, será ele submetido a julgamento perante o STF.” Ocorre a
mesma Constituição diz, em seu artigo 52, que “compete privativamente ao
Senado Federal processar e julgar o presidente e o vice-presidente.” Há
uma dúvida? Claro que há.
Ocorre que ela foi debatida em setembro de 1992, quando
o país discutia o impeachment de Fernando Collor. E foi aí que se chegou a uma
conclusão, como lembrei aqui neste espaço, dias atrás. Há uma jurisprudência
para este caso.
o país discutia o impeachment de Fernando Collor. E foi aí que se chegou a uma
conclusão, como lembrei aqui neste espaço, dias atrás. Há uma jurisprudência
para este caso.
Num relatório que sintetiza a decisão aprovada de um
plenário preocupado com o uso político de um instrumento jurídico delicado, o
ministro Octávio Gallotti lembrou que caberá aos deputados verificar “se a
acusação é consistente, se tem ela base em alegações e fundamentos plausíveis,
não sendo a acusação simplesmente fruto de quizílias ou desavenças
políticas.”
plenário preocupado com o uso político de um instrumento jurídico delicado, o
ministro Octávio Gallotti lembrou que caberá aos deputados verificar “se a
acusação é consistente, se tem ela base em alegações e fundamentos plausíveis,
não sendo a acusação simplesmente fruto de quizílias ou desavenças
políticas.”
A decisão do STF também reforçou o papel do Senado no
processo – o que revela mais uma cautela em nome dos direitos de
defesa.
processo – o que revela mais uma cautela em nome dos direitos de
defesa.
Se a denúncia pode ou não ser aceita pela Câmara,
“será na esfera institucional do Senado, que processa e julga o presidente
da República, nos crimes de responsabilidade, que este poderá promover
indagações probatórias admissíveis.”
“será na esfera institucional do Senado, que processa e julga o presidente
da República, nos crimes de responsabilidade, que este poderá promover
indagações probatórias admissíveis.”
Isso quer dizer que a decisão da Câmara tem um caráter
inicial, no entender do plenário do Supremo de 1992.
inicial, no entender do plenário do Supremo de 1992.
Conforme Gallotti, a acusação pode “somente
materializar-se com a instauração do processo, no Senado.”
materializar-se com a instauração do processo, no Senado.”
O texto prossegue: “Neste é que a denúncia será
recebida, ou não, dado que a na Câmara ocorre, apenas, a admissibilidade da
acusação.”
recebida, ou não, dado que a na Câmara ocorre, apenas, a admissibilidade da
acusação.”
A frase cuidadosa e clara — “a denúncia será
recebida, ou não” pelo Senado — indica o esforço do STF para delimitar o
terreno e proteger um poder que expressa a soberania popular. Não deixa
dúvida sobre o papel essencial do Senado.
recebida, ou não” pelo Senado — indica o esforço do STF para delimitar o
terreno e proteger um poder que expressa a soberania popular. Não deixa
dúvida sobre o papel essencial do Senado.
Já era assim em 1992, quando o STF debatia como poderia
encaminhar o julgamento de Fernando Collor, alvo de denúncias abundantes e
provas consistentes de crime de responsabilidade, a tal ponto que seu
afastamento obteve o consenso político do PSDB e do PT, do PMDB e das
principais entidades representativas do Direito.
encaminhar o julgamento de Fernando Collor, alvo de denúncias abundantes e
provas consistentes de crime de responsabilidade, a tal ponto que seu
afastamento obteve o consenso político do PSDB e do PT, do PMDB e das
principais entidades representativas do Direito.
Com seu voto de ontem, Fachin tornou a presidência da
República mais vulnerável a “quizílias e desavenças políticas”, para
usar a linguagem de Otavio Galloti.
República mais vulnerável a “quizílias e desavenças políticas”, para
usar a linguagem de Otavio Galloti.
Este é o debate a ser feito hoje, quando o debate será
retomado no STF.
retomado no STF.