Com aprovação em queda, Dilma pede que auxiliares divulguem ‘marcas’ sociais

Com a popularidade em queda, o patrimônio de “gerente”
corroído e sob ameaça de uma CPI da Petrobrás, a presidente Dilma Rousseff
determinou aos ministros que adotem a estratégia da multiplicação das marcas do
governo. A ordem é para que todos os auxiliares, sempre que fizerem discursos
públicos, citem programas sociais como Mais Médicos, Pronatec, Prouni, Brasil
Sem Miséria e Minha Casa, Minha Vida.

O roteiro de reação deve ser seguido mesmo se o tema da cerimônia não
estiver relacionado a esses assuntos e os ministros forem de outras áreas.
Pressionada por eleitores que exigem mudanças, como revelou a última pesquisa
Ibope divulgada anteontem, Dilma quer destacar que muitos dos programas
mencionados hoje por seus adversários são conquistas da administração do PT e
representam “só um começo”.

Uma campanha publicitária sobre o Mais Médicos entrará no ar na próxima
semana. Para rebater as críticas da oposição de que o governo Dilma investe no
“trabalho escravo” de médicos cubanos, a propaganda na TV mostrará como
o programa, com cerca de 14 mil novos profissionais, tem mudado a vida dos mais
pobres, principalmente no interior. A meta é que, até a Copa do Mundo, o plano
dê assistência a 49 milhões de pessoas.

“O principal cabo eleitoral do seu governo é você mesma”,
disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em conversa com Dilma, no
início do mês. “Os ministros têm que divulgar as ações do governo, dar
respostas mais rápidas e traduzir todos esses números para a vida real. Ninguém
sabe o que é PIB. A pessoa quer saber o que pode comprar no supermercado, se a
vida melhorou ou não.”

Dilma começou a pôr em prática os conselhos de Lula, mas a pesquisa
Ibope acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto. Embora o senador Aécio
Neves (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB),
pré-candidatos ao Planalto, não tenham capitalizado a insatisfação com o
governo do PT, Dilma caiu em todos os cenários. A presidente ainda venceria no
primeiro turno, se a eleição fosse hoje, mas a desaprovação a seu modo de governar
subiu de 43%, em março, para 48% neste mês.

Reduto. Além disso, a pesquisa captou um desejo crescente de mudança. O
índice de brasileiros que querem alterações profundas no governo chegou a 68%
em abril, segundo o levantamento. O descontentamento com o governo Dilma
aumentou muito entre os jovens e também entre tradicionais eleitores do PT,
como beneficiários do Bolsa Família. A avaliação negativa da gestão, feita por
pessoas que moram na periferia, subiu 11 pontos, passando de 27% no mês passado
para 38% agora. São índices próximos ao que Dilma obteve no período posterior
aos protestos de junho do ano passado.

O “inferno astral” do governo é atribuído, nos bastidores do
PT, a turbulências na economia, com o aumento da inflação, e à
“desconstrução” da imagem da Petrobrás, abalada por denúncias de
corrupção e sob ameaça de uma CPI no Congresso.

“A oposição continua sendo hipócrita. Nem o mais ingênuo dos
políticos vai acreditar que uma CPI transcorrerá de forma técnica e sem
contaminação política, principalmente começando em abril ou maio, com prazo de
180 dias, para acabar no período eleitoral”, afirmou ao Estado o ministro
das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini.

No Planalto, Berzoini já começou a seguir a recomendação de Dilma para
multiplicar as marcas do governo. “Essa é uma eleição para fazer um debate
profundo do que foi o Brasil no passado e do que o Brasil é hoje em termos de
desemprego, renda, salário mínimo, Minha Casa Minha Vida, Prouni e Bolsa
Família”, insistiu ele.

Para Eduardo Campos, a estratégia indica que o PT vai apostar no
“terrorismo eleitoral”, acusando a oposição de querer acabar com
programas sociais. “Eles sabem que sabemos fazer. Não podemos ficar sem
alternativas nesse debate do presente e do passado”, argumentou o ex-governador,
ao formalizar a ex-ministra Marina Silva como vice de sua chapa.

“O problema não é o Brasil; é o governo que está aí”, afirmou
Aécio no programa de TV do PSDB, exibido na quinta-feira. O tucano abriu
ofensiva contra o PT ao dizer que o governo “não reconhece que a inflação
está saindo do controle”.

Economia. Além das previsões de menor crescimento feitas recentemente
pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e também pelo Banco Central, os
juros básicos estão hoje em 11% ao ano, acima do patamar de quando Dilma
assumiu o governo, e há risco de racionamento de energia.

A “agenda positiva” da presidente até a Copa, porém, prevê
“vacinas” contra as más notícias da economia, com discursos sob
medida para estancar a queda de sua popularidade entre eleitores de várias
faixas de renda.

Na lista dos antídotos produzidos para a nova classe média constam a
entrega de mais moradias do Minha Casa, Minha Vida e a ampliação da bolsa do
Pronatec. Dados do Ministério da Educação indicam que 40% das matrículas do
Pronatec são de jovens oriundos de famílias com renda mensal de até três
salários mínimos.

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