A Prefeitura de São Luís abriu um espaço merecido às religiões de matriz africana dentro da programação alusiva ao aniversário de 412 anos da cidade patrimônio da humanidade. o evento reuniu público numeroso e animado na Praça das Mercês, na Praia Grande. Foi uma grande festa ao som do cantor e compositor Chico César e dos grupos Samba de Terreiro, Povo do Axé e do show Vozes Negras, além da participação de blocos afros.
Expoente da geração musical projetada na década de 1990, na corrente que também deu visibilidade ao pernambucano Lenine e ao maranhense Zeca Baleiro, o paraibano Chico César mostrou toda a vitalidade de sua obra musical, fincada nas raízes da ‘mama África’ e que soa cada vez mais globalizada e sintonizada com a sua militância, ressaltada ao longo de sua trajetória artística. Do alto de seus 60 anos de vida e 40 de sucesso, o cantor deu um presente à altura para a cidade conectada com a sua ancestralidade.
Muito animado e falante, Chico César disse que recebeu com muito entusiasmo o convite para cantar em homenagem aos 412 anos de São Luís. “Voltar a São Luís em uma noite em que se celebra a cultura afro-descendente é uma honra. Sei que muitos outros artistas do Brasil gostariam de estar neste lugar hoje, pois acho que o Maranhão, Pernambuco e Bahia guardam uma tradição afro-brasileira que ainda nem é conhecida. O Maranhão, por exemplo, ainda tem muito a revelar para o Brasil e para o Continente Americano. Sinto-me muito ligado a este estado e aos artistas daqui, principalmente Zeca Baleiro, Rita Benneditto, Chico Saldanha e Josias Sobrinho”, disse Chico César, que está em turnê com Baleiro com o show alusivo ao disco ‘Arrepio da Lei’.
O público cantou e dançou ao som de antigos e novos sucessos do paraibano. A noite ganhou ar de descontração, de força e resistência. “Ele é um dos artistas mais genuínos do Brasil e tem uma história em defesa da cultura afro-descendente. Que presente maravilhoso São Luís ganha nesta noite especial”, elogiou Roberta Ribeiro, que cantava abraçada com o namorado as músicas do artista.
Além da apresentação de Chico César, a noite contou com a presença do grupo Samba de Terreiro, capitaneado por Fernando de Iemanjá, que entoou sambas que falam da cultura preta e, também, tambor de mina. O grupo é formado por povos de terreiro. “O propósito é trazer essa musicalidade de dentro dos terreiros para fora”, destacou Fernando de Iemanjá.
Blocos afros
A noite foi também dos blocos afros, que se apresentaram no palco, sendo que cada grupo executou uma música. Luís Carlos Guerreiro, do bloco afro Akomabu, disse que o evento organizado pela Prefeitura de São Luís em homenagem à cidade ajuda na autoafirmação do povo negro. “E tem sido também um grande presente para os grupos de religião de matriz africana pelo quarto ano consecutivo”, frisou.
O show Vozes Negras reuniu os cantores Fernanda Garcia, Luciana Pinheiro, Gisele Padilha, Paulinho Akomabu e Milla Camões. “Muito feliz em participar deste evento e apresentei duas músicas, sendo uma delas ‘Morro não tem vez’ e ‘A força que vem da raiz’, que aborda a questão da ancestralidade”, ressaltou Fernanda Garcia.
A plateia, formada também por dezenas de pais, mães e filhos de santo, se divertiu do começo ao fim do evento. Moradores de vários bairros de São Luís prestigiaram a programação temática. “Os povos de terreiro estão tendo vez e voz e isso para a gente é um reconhecimento e um privilégio. Que bom que em todas as festas há um espaço especial para todos nós. Isso é democracia”, disse Edvânia Santos, moradora do bairro Anjo da Guarda.
Nesta terça-feira (3), a programação homenageia o Dia Municipal do Reggae e corteja o ritmo jamaicano, também na Praça das Mercês, com a presença estrelada de Donna Marie, da banda Maneva e do cantor Kevin Isaacs, filho de Gregory Isaacs. A noite também será embalada por DJs, radiolas e pelas cantoras Célia Sampaio e Núbia.
Entre os convidados locais para a Noite do Reggae estão a radiola Estrela do Som, Simone Mouzzi, Filhos de Jah, Levi James, Luís Guerreiro, Biné Star Disco, Jorge Black, Marcos Vinicius, Frank Willer e Ademar Danilo.
Um dos destaques da noite será Donna Marie, artista que marcou os anos 1990 com sua versão reggae do hit “ThinkTwice”, de Celine Dion. Conhecida no Maranhão como “Melô de Poliana”, a música alcançou o Top 10 das paradas no Canadá e no Brasil, especialmente no Maranhão e no Pará.
O evento é uma homenagem ao regueiro, figura emblemática da cultura popular ludovicense, e que contribuiu para a difusão do gênero na capital. Desde a década de 1980, o ritmo jamaicano se enraizou profundamente na periferia, crescendo em popularidade por meio das tradicionais radiolas de reggae, que amplificavam o som das vitrolas e fizeram o reggae conquistar São Luís.
A estrutura da ‘Cidade da Alegria’ oferece, ainda, o Espaço Reggae, com apresentações de bandas e DJs, e o Hot Space, com DJs de música eletrônica, que farão a animação antes dos shows no palco principal.
Segurança
A produção do evento organizou um esquema rigoroso de segurança, com torres estrategicamente posicionadas e controladas pela Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Municipal e Corpo de Bombeiros. Uma praça de alimentação coberta reúne 60 baias destinadas a comerciantes cadastrados pela Blitz Urbana. O espaço é utilizado para a venda de alimentos e bebidas.
Com relação ao trânsito, o acesso é facilitado pela Avenida Senador Vitorino Freire e Terminal de Integração, este último com entrada exclusiva para quem se desloca de ônibus. A Secretaria de Trânsito e Transporte (SMTT) garante a presença de agentes durante todo o evento, orientando os motoristas e reforçando a sinalização.