O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), fez nesta terça-feira (9), uma dura insinuação a respeito do envolvimento do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) com “narcomilícias” do Rio de Janeiro.
Ao mencionar Flávio Bolsonaro, Dino respondia a um questionamento do senador Magno Malta (PL-ES), sobre operações da Polícia Federal contra atiradores e colecionadores registrados, os chamados CACs. Segundo o parlamentar, os CACs presos são marginais, e não podem ser considerados como representantes da categoria dos atiradores registrados.
“O senhor prendeu 400 marginais, que se tornaram CACs. Eu quero saber é como Vossa Excelência vai fazer para desarmar as organizações criminosas”, perguntou Malta.
“Na verdade, é porque, até o senador Flávio Bolsonaro falou sobre narcomilícia, e é um tema que ele conhece muito de perto, esse casamento de milícia com narcotráfico. É claro que em relação aos CACs, também ocorreu isso: infelizmente, como o senhor mencionou, criminosos viraram CACs e CACs também se associaram a práticas criminosas, e, por isso, têm ocorrido as prisões. […] Nós temos uma zona de interseção. É claro que nós temos a imensa maioria dos CACs que não comete crimes, mas nós temos alguns CACs que estão a serviço de organizações criminosas, e essa é a razão principal pela qual nós temos realizado essas operações”, disse.
ADPF – No momento das respostas do ministro, as perguntas estavam sendo feitas em blocos. Antes da fala de Dino, Flávio Bolsonaro havia cobrado uma revisão da postura do PSB – partido do ex-governador do Maranhão – em relação à ADPF 635, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), e por meio da qual foram vetadas operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia do coronavírus.
A ação requisitava que o STF suspendesse o sigilo dos protocolos das operações policiais no Estado do Rio de Janeiro.
Para Flávio Bolsonaro, isso teria contribuído para o aumento da criminalidade não apenas no Rio, mas em todo o Brasil – de acordo com o senador, após a ação, criminosos de outros estados chegaram à capital fluminense para “treinar” e, então, voltar aos seus estados de origem.
“O Rio de Janeiro caminha para uma triste realidade de narcomilícia. Daqui a pouco não tem mais guerra no Rio porque miliciano está se associando a traficante”, comentou, acrescentando que, por conta da ação, policiais em serviço foram mortos no Rio, enquanto que o objetivo principal da iniciativa, a redução da letalidade da polícia, não ocorreu.
“Nos últimos cinco anos, ministro, foram assassinado 121 policiais em serviço no Rio de Janeiro. E eu sei que os autores de uma ADPF 635 como essa o fazem com base em reduzir a letalidade policial. Só que a consequência prática, eu estou mostrando aqui para o senhor e para todos os senadores, que não está sendo isso. Os policiais continuam morrendo, e os traficantes estão cada vez mais fortes, porque a polícia não consegue fazer o combate da forma como deveria ser”, ressaltou.
“O senhor mesmo trouxe um dado, falou assim: ‘Nos últimos cinco anos, morreram 121 policiais’. Quem era o presidente da República nos últimos cinco anos. Então, nós não podemos responder pelos dados estatísticos dos últimos cinco anos. Porque, desses últimos cinco anos, nós exercemos o governo em quatro meses”, argumentou Dino.
“A ação foi feita para reduzir a letalidade policial e não aconteceu”, rebateu Bolsonaro.
Dino contra-argumentou que o Ministério da Justiça tem auxiliado tanto o Governo do Estado do Rio de Janeiro, quanto prefeituras locais, no combate à criminalidade.
“Em relação à polícia do Rio de Janeiro, eu estou solidário, converso sempre com o governador atual, reúno muito com os secretários de Segurança, que são vários no Rio de Janeiro, oferecemos ajuda, estou indo amanhã a Niterói, fazer uma ação junto com a prefeitura, relativa à parceria da Polícia Rodoviária Federal com a Prefeitura de Niterói, para poder ajudar a combater o crime organizado, começamos uma ação da PRF na cidade de Belfort Roxo, também a pedido do senhor prefeito. Então, nós temos muitas ações lá, em parceria com o governo estadual, com prefeituras, e é um problema, como o senhor sabe, crônico, tanto que o senhor citou dado dos últimos cinco anos”, completou o ministro, destacando que é preciso esperar o STF julgar a ADPF 635.