Estadão: Policial do Senado denuncia missão para Sarney

Autor da denúncia que originou a operação da Polícia Federal no Senado na última sexta-feira (21),
o policial legislativo Paulo Igor Bosco Silva afirmou que seus colegas
cumpriram uma missão “secreta” no escritório particular do
ex-presidente da Casa José Sarney (PMDB-AP), em Brasília.
O objetivo, como em outros pedidos
feitos pelos parlamentares, era descobrir se o local estava grampeado por
eventuais escutas ambientais e telefônicas.
Silva recebeu o Estado na tarde de
sábado (22) e detalhou a denúncia apresentada ao Ministério Público Federal e à
Polícia Federal. A varredura de grampos realizada no escritório de Sarney, de
acordo com ele, foi feita por meio de uma “ordem de missão oculta”,
não numerada, em julho de 2015, quando o ex-parlamentar não exercia mais cargo
público.
— Muitas vezes a emissão de ordem de
missão vinha não numerada. Uma ordem de missão não numerada é aquela que está
inscrita no papel, mas não entra no controle. Tem a ordem 1,2,3,4, 5 e, a
partir do momento que emito uma sem numeração, significa que ela não está
entrando no controle. Isso aconteceu na do Sarney. Ordem de missão não numerada
não é normal porque todo documento oficial tem que ter um controle do órgão.
Afastado das atividades por motivos de
saúde, Silva, de 29 anos e há quatro funcionário concursado da Polícia
Legislativa, diz que fez a denúncia após suspeitar que as ações de varreduras
tinham como objetivo embaraçar as investigações da PF no âmbito da Operação
Lava Jato. Ele nega relação com o fato de estar respondendo a um procedimento
interno sob a acusação de dar aulas em um cursinho em horário de expediente.
— Não tem fundamento, porque a denúncia
que fiz foi de maio e a sindicância é de 31 de agosto.
Desdobramentos das investigações da PF
apontam que um grupo de policiais legislativos, liderado pelo diretor da
Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, “tinha a finalidade de
criar embaraços às ações investigativas da PF para favorecer senadores e
ex-senadores, utilizando-se de equipamentos de inteligência”.
Entre os beneficiados também foram
citados os senadores Fernando Collor (PTC-AL) e Gleisi Hofmann (PT-PR), além do
ex-senador Lobão Filho (PMDB-MA).
Carvalho e mais três policiais
legislativos foram presos pela PF, mas apenas o diretor continua detido. Em
nota divulgada na sexta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), defendeu a atuação dos policiais subordinados a ele e afirmou que as
varreduras não acarretam em outros tipos de monitoramento.
Lava Jato
Silva relatou também uma ordem de
“missão não numerada” nos escritórios particulares de Lobão Filho no
Maranhão. Na ocasião, porém, houve resistência por parte dos agentes do Senado
destacados para a operação.
— Como era algo que causava estranheza,
o pessoal acabou entendendo, por bem, que não seria cumprido se não tivesse a
ordem por escrito. E foi feito, apareceu a ordem por escrito e eles foram
cumprir. Mas eu me recusei.
Segundo ele, a recusa ocorreu após
notar uma associação do pedido de varredura com uma ação da Lava Jato.
— A PF fez uma operação que envolveu o
Lobão e pouco tempo depois foi determinado uma varredura nos escritórios
particulares e na residência lá no Maranhão.
A mesma iniciativa teria ocorrido após
batida da PF nas residências do senador Fernando Collor (PTC-AL), realizadas em
15 de julho, em Brasília.
“Assim que a Polícia Federal saiu
da Casa da Dinda, o pessoal entrou para fazer a varredura. Assim que saíram do
apartamento funcional dele, o mesmo procedimento foi feito” disse Igor.
— Isso me causava estranheza. Se a
Operação Lava Jato estava com a autorização judicial e a PF cumpriu uma decisão
também com autorização, como é que eu vou, na sequência, no mesmo endereço,
fazer uma operação de contrainteligência verificando se existe ou não o grampo?
Você pode até me falar: mas o grampo não poderia ser externo, de outro lugar?
Poderia, mas também poderia ser da PF. E obviamente não vou saber identificar
qual é qual, encontrando um, vou tirá-lo. E evidentemente que isso poderia
atrapalhar o andamento das investigações.
O policial legislativo afirmou
desconhecer de quem partiam as ordens para as missões.
— É a dúvida que surge, mas eu também
não posso tirá-la. Desconheço se havia alguma determinação superior, alguma
combinação. Para cima não sei o que acontecia, sei o que acontecia do Pedro [diretor
da Polícia Legislativa] para baixo.
Ele revelou ainda que, após a operação
de sexta, foi ameaçado por um agente próximo do diretor da Polícia Legislativa.
Em um grupo de mensagens utilizado pelos policiais, ele escreveu que “após
resolverem tudo isso (prisão de Carvalho), deveriam resolveu o destino
dele”.
O advogado-geral do Senado, Alberto
Cascais, foi procurado ontem, mas não respondeu aos telefonemas até o
fechamento desta edição.
Defesa. Procurado pelo Estado, o advogado Antônio
Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Sarney, afirmou que o ex-senador
não se lembra da varredura em seu escritório. “Se foi feito depois, ele,
como presidente do Senado, pode até discutir se houve alguma questão
administrativa, alguma falha. Mas jamais se cometeu um crime”, disse
Kakay.
O advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, foi
procurado ontem, mas não respondeu aos telefonemas até o fechamento desta
edição.
                      

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