CUNHA MANOBRA E APROVA FINANCIAMENTO PRIVADO

O
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), conseguiu, através de
uma emenda do deputado federal Celso Russomano (PRB), recolocar, nesta
quarta-feira (27), em votação o financiamento empresarial de campanha. Com a
derrota de uma emenda sobre o tema na madrugada de hoje, os deputados
contrários ao financiamento privado de empresas não queriam que esse trecho do
texto fosse novamente votado, mas, com o apoio da maioria dos líderes, Cunha
quebrou um acordo anterior e ressuscitou o tema. A emenda foi aprovada com 330
votos. 141 deputados foram contrários. Houve uma abstenção.
A nova emenda insere na Constituição a permissão das
empresas doarem exclusivamente aos partidos – e não aos candidatos, que poderão
receber de pessoas físicas. Durante o dia, Cunha pressionou aliados e partidos
nanicos e conseguiu ainda fazer o PRB mudar de posição, uma vez que o partido
votou contra o financiamento empresarial na votação anterior. A sessão que se
estendeu por mais de três horas foi marcada por muita confusão, gritaria e
ânimos exaltados dos deputados. 
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) ressaltou já houve um
resultado sobre o tema, pois o plenário rejeitou ontem uma emenda que previa
esse modelo de financiamento para candidatos e partidos. “Estamos vivendo
um jogo de futebol. O dono da bola perdeu o jogo e está tentando fazer o jogo
de novo”, disse. Para o deputado Glauber Braga (PSB-RJ), a decisão de
Cunha deixa os parlamentares inseguros e pode levar ao controle dos resultados
em Plenário.
O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) disse que a emenda
reproduz, com pouca alteração, a proposta de financiamento empresarial que já
foi rejeitada ontem. “É uma tentativa de repor o que foi derrotado,
colocando ainda mais confusão no processo eleitoral.”
Zarattini defendeu o incentivo ao financiamento de
pessoas físicas, excluídas as empresas. “Não adianta dizer que não temos
tradição, isso não ocorre atualmente porque nunca fomos atrás”, declarou.
O deputado Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA)
disse que o objetivo da reforma política é apenas colocar na Constituição o
financiamento empresarial, acabando com a polêmica com o Supremo Tribunal
Federal (STF), que tem uma ação contra a doação de empresas que já teve voto
favorável de seis ministros. “Mudança de sistema, fim da reeleição, é tudo
cortina de fumaça. O objetivo é colocar na Constituição o financiamento
empresarial. Essa votação é uma coletânea de votos perdidos no Supremo.
Perderam no Supremo e agora querem aprovar”, afirmou.
O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) disse que o
responsável pela constitucionalização do tema do financiamento é o STF, ao
admitir a ação contra a doação de empresas. “Não podemos nos omitir.”
Segundo ele, a emenda em votação foi a sugestão
majoritária dos integrantes da comissão especial da reforma política. “A
emenda vai institucionalizar as relações entre as empresas e os partidos”,
disse. Ele avaliou ainda que, ao estabelecer tetos de gastos, a emenda vai dar
transparência ao financiamento.
Já o deputado Silvio Costa (PSC-PE) disse que há diferenças
no que foi votado ontem e o que está sendo discutido hoje: a possibilidade de
doação de empresas para candidatos, contemplada no texto derrotado ontem e
proibida pela emenda em votação. Ele também chamou de hipócritas os deputados
que são contrários ao financiamento empresarial.

O deputado Alessandro Molon (PT-SP) afirmou que a doação
exclusiva aos partidos vai tornar os candidatos dependentes das legendas.
“Hoje, pela regra, qualquer um de nós pode receber. Com isso, serão todos
reféns dos seus partidos. Se o deputado conseguir uma doação, o partido repassa
se quiser. Vamos discutir a doação de empresa, mas com fundo público, que
distribua a todos os partidos”, disse.

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