Constantino recomenda história de JB para jovens de ‘rolezinhos’

O blogueiro neocon de Veja
Rodrigo Constantino conta hoje, em seu artigo no jornal O Globo, a história –
“baseada em fatos reais” – de um “um menino muito pobre”
chamado Joaquim, que um dia “resolveu dar um rolezinho em uma
biblioteca”, cresceu na vida e hoje é empresário bem sucedido que vive em
Boston.

Ao recomendar seu texto no site
da revista
, Rodrigo Constantino diz
que a trajetória de Joaquim é um exemplo para “essa garotada perdida em
consumismo vazio e funk de ostentação”, uma referência aos jovens de
periferia que têm organizado os chamados “rolezinhos” em shoppings.
Leia a o artigo:

Um rolezinho cultural

Joaquim era um menino muito pobre, que estudava em uma escola pública e
morava na periferia. Cansado de tanta greve, resolveu dar um rolezinho em uma
biblioteca. Ele não sabia ainda, mas aquilo iria mudar sua vida.

Lá, ele descobriu os clássicos. Com Sófocles, Shakespeare, Kafka,
Dostoiévski, Camus, Machado de Assis, Roth, navegou pelas entranhas da natureza
humana imperfeita. Com Conrad, chegou ainda mais fundo no “horror”,
entendendo o que acontece quando a cultura entra em greve.

Locke lhe ensinou sobre a propriedade privada, e Adam Smith lhe explicou
o poder da “mão invisível”, que acaba levando a um resultado geral
bom, mesmo com cada um seguindo os próprios interesses.

David Ricardo foi fundamental para sua compreensão das vantagens
comparativas. Ele soube que mesmo em trocas voluntárias em que tivesse menos
habilidade em tudo, ainda assim elas poderiam ser mutuamente benéficas.

Com Popper, soube que o relativismo cultural era uma falácia, e que é
possível ter conhecimento objetivo. Compreendeu, ainda, o conceito da Grande
Sociedade Aberta, assim como a importância (e os limites) da tolerância.

Bastiat foi crucial para que ficasse mais atento àquilo que não se vê de
imediato, ou seja, o custo de oportunidade das escolhas ou políticas públicas.
Isso o ajudou a criticar a visão míope de muito governante em busca de votos,
com suas medidas populistas e assistencialistas.

De Tocqueville ele absorveu as características da democracia americana,
das associações voluntárias desse povo, que foi capaz de construir uma nação
próspera e relativamente livre. Jean-François Revel sepultou de vez qualquer
ranço antiamericano que tivesse sobrevivido após a lavagem cerebral de seus
professores marxistas.

Lord Acton deixou bem claro que o poder corrompe, e o poder absoluto
corrompe absolutamente. A liberdade precisa ser defendida com base em
princípios sólidos, não apenas interesses momentâneos.

Mergulhou na Escola de Salamanca, descobriu os austríacos Menger,
Bohm-Bawerk, Mises e Hayek, e nunca mais levou a sério o socialismo. Já tinha
noção clara de que, mesmo sob anjos, o sistema não poderia funcionar, pela
impossibilidade de cálculo econômico racional.

Dos pensadores conservadores, como Burke, John Adams, Russell Kirk,
Oakeshott, Isaiah Berlin, Irving Babbitt e Theodore Dalrymple, capturou a
importância do respeito às tradições, os limites da razão, os riscos das
ideologias e utopias, o enorme perigo das revoluções.

Passou também a desconfiar da democracia direta, entendendo que a
República não pode ser a simples tirania da maioria. Benjamin Constant lhe
ensinou sobre os necessários limites constitucionais do poder estatal, e
Montesquieu, sobre a divisão dos poderes.

Schumpeter foi como uma luz ao lhe mostrar a “destruição criadora”.
Agora não temia mais o avanço tecnológico, as inovações capitalistas, como
faziam os ludistas, pois sabia que cada avanço gerava mais riqueza e criava
novos empregos.

Milton Friedman lhe ensinou a eficácia do vale-educação, e Thomas
Sowell, a ineficácia das cotas raciais.

Lendo as distopias de Orwell, Huxley, Ayn Rand e Koestler, ficou imune a
todo tipo de tentação para as “soluções mágicas” que criariam um
“mundo melhor” ou um “novo homem”. Sabia que o coletivismo
era o caminho da destruição do indivíduo.

Estudou história com Paul Johnson, e ficou sabendo que vários
“intelectuais” colocavam as ideias abstratas acima dos seres de carne
e osso, louvando a Humanidade, mas agindo com profundo desdém em relação aos
próximos.

Descobriu também a música clássica. Escutou Mozart, Beethoven, Brahms,
Bach, Chopin, Rachmaninoff, Tchaikovsky, e ficou encantado. Como aquilo lhe
tocava a alma! Foi Roger Scruton quem lhe convenceu da importância da beleza em
nossas vidas. Sabia agora que se tudo é arte, nada é arte.

Joaquim tinha um espírito empreendedor, e desejava muito melhorar de
vida. Foi com sua bagagem cultural para os Estados Unidos, tentar a sorte. Eram
os anos 1980, a era Reagan, com mais oportunidades. Sempre olhara para os
melhores com admiração, nunca inveja. Eram uma meta para ele, um exemplo a ser
seguido. Hoje ele é um empresário de sucesso e vive em Boston.

Em sua velha comunidade, é acusado de “traidor”. Por ser
negro, acusam-no de se comportar como um “branco” e ignorar sua raça.
Mas ele jamais entendeu dessa forma. Para ele, o normal é desejar crescer na
vida, aprender com a civilização, e não desdenhar dela. Até hoje ele é muito
grato pelo rolezinho que decidiu dar na alta cultura quando jovem.

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