Do que têm medo a Globo e os três Marinhos?

Brasil 247

 
Donos
do maior patrimônio pessoal entre todos os empresários de mídia do mundo, como
o australiano Ruppert Murdoch, do grupo Media News, ou o americano Ted Turner,
da rede CNN, os três irmãos Marinho – João Roberto, Roberto Irineu e José
Roberto – consideram ter mais de um bilhão de motivos para atuarem, com sua
poderosa máquina editorial, contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Nota sobre nota, eles têm, juntos, uma fortuna estimada pela revista Forbes em
US$ 28,9 bilhões (R$ 74,2 bilhões de reais). Porém, com mais quatro anos de
Dilma no Palácio do Planalto, os três temem perder dinheiro, prestígio e
influência em doses imprevisíveis. Podem ser bastante fortes.

No
ano passado, a Receita Federal venceu no Carf (Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais) uma disputa com a Globo de R$ 713 milhões. Hoje, a conta
ainda não saudada está em mais de R$ 1 bilhão. Por outro lado, a reeleição da presidente
vai, necessariamente, aquecer o debate sobre a regulação do funcionamento do
setor de mídia no Brasil. Pilares da base do gigantismo da Globo, como
propriedades cruzadas e presença majoritária em múltiplas áreas de atuação,
configuram um oligopólio que fatura, anualmente, cerca de R$ 10 bilhões. É essa
espécie de fábrica de fazer dinheiro, erguida a partir do período dos militares
no poder do Brasil (1964-1985) e movida pelo B.V. (o famoso bônus de
veiculação), que se vê ameaçada pela presidente candidata.

Um
terceiro, mas não menos importante elemento, é o público em si. Em junho do ano
passado, uma parte do vandalismo em que as manifestações degeneraram foi
dirigido contra a Globo. Esterco chegou a ser jogado nas paredes da sede da
emissora em São Paulo. A pressão popular sobre carros adesivados da emissora
passou a ser um fato cotidiano, e sempre arriscado, na vida dos profissionais
da empresa.

BELIGERÂNCIA
NO DNA –
É natural, na defesa
de seus interesses bilionários, que os Marinho usem todos os canhões ao seu
dispor. A beligerância, de resto, está no DNA do grupo empresarial que eles
herdaram do pai. A Globo nasceu com obsessão pelo poder. A estratégia do
empresário Roberto Marinho foi, desde as primeiras transmissões, em abril de
1965, exatamente um ano depois de os militares brasileiros derrubarem o
presidente João Goulart, a de servir ao regime. Não há interpretação histórica
que possa superar esse fato.

A
Globo, apesar de algumas linhas de autocrítica publicadas no jornal O Globo por
ocasião do cinquentenário do golpe militar, no ano passado, não quer cortar
suas raízes com o autoritarismo. Pelo simples motivo de que foi a antítese da
democracia que estabeleceu o modelo de concentração que a beneficiou. As
Organizações enxergam a democracia como o regime que necessariamente vai
enfraquecer seu poder, à medida em que permite a existência e o florescimento
de outras fórmulas empresariais.

O
nervosismo do âncora William Bonner e a descortesia da apresentadora Patrícia
Poeta, ontem, diante de Dilma, na entrevista no Jornal Nacional, revelaram
apenas a ponta do iceberg de interesses escondidos pela Globo em sua propalada
isenção editorial. Não está no DNA da emissora ser isenta, ao contrário. Muito
menos têm havido equilíbrio por parte da emissora no noticiário da atual
sucessão presidencial. Pesquisadores da Uerj já havia mostrado que o JN
dedicou, entre 1º de janeiro e 31 de julho, 83 minutos de noticiário avaliado
por ele como negativo para Dilma contra 3 minutos de informações apontadas como
positivas. 

JN
PERDEU IBOPE NOS ÚLTIMOS ANOS –

Para tomar-se, apenas, os investimentos do governo federal em publicidade, o
que se tem é que eles diminuíram para a Globo a partir da introdução continuada
de filtros técnicos para a aplicação das verbas. Acontece que a audiência da
Globo como um todo, e em horários nunca antes ameaçados, está diminuindo.
Apenas o Jornal Nacional, por exemplo, perdeu mais de 20 pontos no Ibope nos
últimos anos. A introdução de novos mecanismos de medição de público, de outra
parte, também mostra que o poderio real das Organizações Globo é declinante, no
sentido do alcance e influência sobre público.

Em
1982, a Globo tentou ditar o resultados das eleições para governador do Rio de
Janeiro, no que ficou conhecido como o escândalo da pró-consult – a assessoria
que contava os votos em paralelo à Justiça Eleitoral. Em 1989, como o então
todo poderoso global Boni admitiu em biografia festiva, a emissora manipulou o
debate presidencial entre os candidatos Lula e Collor e usou, claro, o Jornal
Nacional para desequilibrar ainda mais a cena real daquele disputa. Em ambos os
casos, a Globo procurou interferir na disputa em seus momentos finais. 

Ontem,
com a chamada entrevista em que a presidente Dilma foi interrompida 21 vezes,
em 15 minutos de conversa, pelo âncora do JN, a Globo mostrou que partiu para o
ataque desde o primeiro minuto. Certamente porque sabe, com seus sofisticados
instrumentos de aferição dos humores da população, que enfrenta cada vez mais
dificuldade para impor a vontade de seus herdeiros ao público. 

 

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