Lupi nega ter mentido sobre uso de avião e amizade com dirigente de ONG

Em depoimento na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, na manhã desta quinta-feira (17), o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, negou que tivesse mentido a deputados ao prestar esclarecimentos na Câmara sobre denúncias de corrupção e desvio de dinheiro público na pasta comandada por ele.
Lupi declarou que é preciso conferir as
 notas taquigráficas do depoimento que fez na semana passada
Aparentando calma, o ministro afirmou que não faltou com a verdade quando disse não ter relações pessoais com o empresário Adair Meira presidente da ONG Pró-Cerrado, que mantém contratos de milhões de reais com o Ministério do Trabalho.
– Em momento algum eu afirmei que não o conhecia. Nem me foi perguntado isso. Me indagaram se eu tinha relações pessoais com o senhor Aldair ou se frequentava a casa dele. Eu disse que não mantinha e confirmo que não tenho relações pessoais com o empresário. Conhecer é diferente de manter relações pessoais – enfatizou.
O ministro disse ter sido vítima de uma falha de memória ao não relacionar o nome à pessoa no momento em que foi indagado pelo deputado.
– Não fiz teatro. Estava sob pressão para responder dez a 12 perguntas em sequência, então me socorri de um papel para relacionar o nome à pessoa. Já estive com ele em outros eventos públicos. O que há de errado nisso?Este processo de ataque não se sustenta, estou sofrendo um linchamento público – disse.
O ministro ainda elogiou a Pró-Cerrado que, conforme afirmou é uma instituição séria e respeitada.
– Todos os contratos e serviços prestados pela entidade foram obtidos por chamada pública, ou seja, licitação – resumiu.
Avião
Em relação ao uso de um avião supostamente financiado pelo empresário Adair Meira, numa viagem ao Maranhão em dezembro de 2009, Lupi voltou a questionar a interpretação que foi dada as suas declarações.
– Eu disse que não tinha andado em seu avião pessoal, não me referi à taxi-aéreo. Gostaria de saber de que me acusam, pois a pessoa que a revista acusou de pagar pela aeronave já negou publicamente. Meu erro foi não checar devidamente. Quantos deputados e ministros, em seu trabalho, usam carros e helicópteros de quem não conhecem? Eu não pedi avião, não tenho como saber. Quem tem que explicar o pagamento desta aeronave não sou eu – disse Lupi, que admitiu ter cumprido agenda partidária na ocasião da viagem, cuja organização ficou a cargo do PDT maranhense.
Ao argumentar que suas declarações foram distorcidas pela imprensa, “tiradas de seu contexto”, Lupi declarou que é preciso conferir as notas taquigráficas do depoimento que fez na semana passada, na Câmara dos Deputados.
O ministro argumentou também que, na ocasião da viagem, primeiramente embarcara em um avião Sêneca e, no meio da viagem, como tem “dificuldades nos ouvidos por causa pressurização”, teve de trocar de aeronave, embarcando então em um King Air.
Diárias
As explicações não convenceram os senadores da oposição. Alvaro Dias (PSDB-PR) atacou Carlos Lupi, afirmando que ele mentiu na Câmara dos Deputados, cometeu crime de responsabilidade e agora está “subestimando a inteligência dos brasileiros”.
– Todos ouviram Vossa Excelência falar que não usou o avião. Agora diz que viajou sim no King Air. Seria mais digno pedir perdão por ter mentido. Sua permanência no ministério compromete o governo de Dilma Rousseff. Se o senhor permanecer no cargo, ela estará sendo cúmplice – afirmou.
Os senadores questionaram ainda os valores recebidos a título de diária por Carlos Lupi, visto que ele cumpria agenda ministerial, mas admitiu ter compromissos partidários na viagem ao Maranhão. No fim da audiência, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) informou que foram pagas três diárias e meias, no valor de R$ 1.736, quantia que não foi confirmada pelo ministro.
– Não tenho como dar detalhes agora; preciso verificar. Mas, se houver qualquer irregularidade, devolvo o dinheiro – disse Lupi.
A senadora ainda afirmou que a nota fiscal referente ao pagamento do aluguel da aeronave estaria num processo de prestação de contas de convênio da pasta com a Pró-Cerrado. Por isso, ela apresentou requerimento para que o ministro apresente tal processo, que deve ser votado na próxima reunião da Comissão de Assuntos Sociais.
PDT
Diante das acusações, a permanência do ministro Lupi no cargo também não é consenso dentro do próprio PDT. O senador Pedro Taques (PDT-MT) afirmou que o ministro – independentemente da veracidade das acusações – deveria se afastar da pasta enquanto o Judiciário e outros órgãos se encarregam das investigações.
– Politicamente, os fatos são graves e merecem investigação. Precisamos da verdade. Com todo respeito ao partido, politicamente, não temos condições de exercer esse ministério. Partido político é muito importante, mas a defesa do patrimônio público e a confiança são mais – opinou Taques.
Mas, para o senador Acir Gurgacz (PDT-RO), Lupi “sai fortalecido da audiência e a sua permanência no ministério é muito importante para o PDT”. Já o presidente do PDT, o deputado federal André Figueiredo (CE), declarou que o partido ainda não tem posição formal em relação à questão.

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