Cidades do país sentem reflexo de tremor; prédios são evacuados em SP e no DF

Abalos na Bolívia foram sentidos em cinco estados e no DF; não há feridos

 

Foto mostra pessoas na calçada de prédio na avenida Paulista que foi evacuado após tremor
Prédio é evacuado na avenida Paulista após tremor - Suamy Beydoun/AGIF

 

Brasília , São Paulo e Belo Horizonte

Reflexos de um terremoto na Bolívia foram sentidos em diferentes pontos do país por volta das 11h desta segunda-feira (2). Não há informações sobre feridos. Há relatos em São Paulo, em Minas Gerais, no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, além do Distrito Federal.

Em São Paulo, por exemplo, ao menos cinco prédios comerciais na avenida Paulista foram evacuados por causa de tremores sentidos nos andares mais altos. O quarteirão entre as alamedas Joaquim Eugênio de Lima e Campinas ficou apinhado de funcionários assustados.

A contadora Elisângela Corrêa, 39, trabalhava no 10º andar de um prédio quando começou a sentir tontura. Grávida de seis meses, achou que fosse algum sintoma da gravidez, mas percebeu que havia algo errado quando viu a persiana bater na janela. “Foi o tempo de pegar o celular e descer as escadas. Foi um alívio quando saímos no térreo”, disse.

O contador Franklin Silveira, 35, estava no mesmo andar e também desceu as escadas após pegar o celular. “Pelo menos se ficasse preso, poderia dizer ‘eu te amo’ para a família.”

Outra colega de trabalho, Jennifer Dias, 25, também traçou uma estratégia mental para sobreviver a um possível colapso do prédio. “Comecei a olhar para os lados e encontrar um lugar para pelo menos respirar até alguém vir resgatar”, disse, sobre a possibilidade de o prédio onde trabalha ter desabado antes de conseguir sair. “Não estamos preparados para isso. Os prédios são todos de concreto e vidro.”

ALARME

Também na avenida Paulista, no prédio da Petrobras e no edifício número 949, o alarme de incêndio foi acionado, e bombeiros civis passaram pelos andares para avisar que o prédio estava sendo evacuado. “Fecharam o elevador e nos mandaram descer as escadas. Só peguei a carteira e o celular, que é quase um órgão vital, e desci”, lembra a advogada Juliana Lins, 33, que estava no 15º andar.

O engenheiro ambiental Fernando Fae, 36, conta que estava em uma reunião em uma sala no prédio da Petrobras quando sentiu o chão se mover. “Achei que estava passando mal, mas depois vi a cortina se mexer e logo o alarme soou.”

Na rua dos Ingleses, na Bela Vista, o tremor também foi sentido nos andares mais altos dos prédios residenciais. Moradores chegaram a ocupar as calçadas com medo de desabamento, mas a situação já tinha voltado à normalidade no final da manhã desta segunda-feira. 

TERREMOTO

Segundo o Observatório Sismológico de Brasília, os tremores sentidos no Brasil são reflexo de um terremoto de 6,8 graus na escala Richter registrado na Bolívia, a 557,2 km de profundidade, na manhã desta segunda. A magnitude do terremoto "não é das maiores", na definição do professor Lucas Vieira, do Observatório Sismológico da UnB (Universidade de Brasília). Ele explica que, no mundo, ocorrem entre 15 e 20 terremotos dessa proporção a cada ano. O que chamou atenção, contudo, foram os efeitos sentidos no Brasil.

"Eu estou um pouco surpreso que esse terremoto, em função dessa magnitude, que não é das maiores, tenha produzido esses efeitos tão intensos no Brasil, em São Paulo e em Brasília", disse Vieira. "Esses terremotos, quando têm foco profundo, as ondas sísmicas viajam de lá e saem aqui no Brasil gerando essas perturbações. As pessoas que estão nos edifícios mais altos percebem com maior intensidade."

Vieira destacou que os efeitos no Brasil são "normais". "Essa não foi a primeira vez e não será a última. Várias vezes no passado isso aconteceu e acontecerá outras vezes."

Os terremotos na região da Bolívia têm sempre a mesma explicação, segundo Vieira. "Todos eles resultam do contato da placa de Nazca com a placa Sul-americana. Eventualmente, uma desliza sobre a outra e esse deslizar gera terremoto. Isso é terremoto em zona de contato de placa, que podem ser grandes e profundos."

DF, BH, PR e SC

Em Brasília, no Setor Comercial Sul, área de escritórios e comércio, prédios foram evacuados após o tremor. Na sede da Infraero, funcionários eram orientados a não entrar no prédio por volta das 12h desta segunda. “Eu disse para uma mulher: ‘ tonta’. E ela respondeu: ‘ tonta não, é o prédio que caindo'. E a gente correu”, disse a funcionária terceirizada de limpeza Fátima, que estava no segundo andar do prédio no momento do tremor. 

Em outras áreas do setor comercial, o tremor também foi sentido. “Parecia que eu estava em um barco”, afirmou o corretor Alessandro Aragão, 45.

O subsecretário da Defesa Civil no Distrito Federal, Sérgio Bezerra, afirmou que não foram constatados problemas nos prédios do setor e que as pessoas devem voltar à normalidade. “O que temos sentido é mais o pânico das pessoas”, afirmou. De acordo com ele, os prédios têm estruturação para suportar “pequenos abalos”. “Tivemos apenas uma repercussão secundária, o epicentro foi muito longe”, disse. 

De acordo com ele, a Defesa Civil fará vistorias no setor apenas em prédios onde tenham sido relatados efeitos como rachaduras nas paredes e vigas. A orientação, diz Bezerra, é que pessoas que morem em habitações construídas de forma irregular que tenham sentido o tremor e percebam rachaduras nas paredes devem chamar a Defesa Civil para avaliação.

O abalo também foi sentido em cidades de Minas Gerais. Em Belo Horizonte, o Corpo de Bombeiros recebeu um chamado relatando tremor em um prédio comercial no bairro Barro Preto, na região central. No edifício de dez andares, o tremor foi sentido do 6º andar para cima. 

Os bombeiros vistoriaram o local, onde funcionam clínicas de saúde, e não observaram danos na estrutura do prédio, que teve o acesso liberado. Pessoas que estavam no edifício, porém, chegaram a abandoná-lo com medo. 

Em Araxá, no Triângulo Mineiro, os bombeiros também foram acionados em um prédio no centro da cidade, mas não houve danos.

No Paraná, moradores de Umuarama e Maringá, no Noroeste do estado, e em Cascaval, na região Oeste, também sentiram o tremor. Técnicos da Defesa Civil dos municípios afetados faziam vistorias no início da tarde desta segunda para averiguar se os prédios sofreram danos estruturais.

Em Santa Catarina, o sismo foi sentido em Palhoça e na cidade de Itajaí, de acordo com balanço da Defesa Civil do estado. Em Itajaí, o órgão registrou 15 ocorrências. "Recebemos chamados de moradores de cinco prédios que viram objetos caírem em casa durante o tremor. Foi só um susto e nenhum dos apartamentos sofreu avarias", informou José do Carmo Dias, coordenador da Defesa Civil de Itajaí.

PERCEPÇÃO

Tremores de terra perceptivos não são incomuns no Brasil. A Rede Sismográfica Brasileira detecta as movimentações permanentemente. Em setembro do ano passado, por exemplo, um tremor de magnitude 3,5 na escala Richter ocorreu na cidade de Itaperuçu, na região metropolitana de Curitiba, por volta da meia-noite, e foi sentido em um raio de 30 km.

Em 2015, na região Norte, foi registrado um terremoto de magnitude 6,7 na escala Richter, sem registro de vítimas. Muitas vezes, os abalos sentidos no Brasil são reflexos de sismos ocorridos em outros pontos da América Latina, como no Chile e na Bolívia.

Em 2008, vários moradores de São Paulo sentiram casas e prédios vibrarem após um tremor de 5,2 graus na escala Richter. O epicentro foi registrado a cerca de 215 km de São Vicente, no litoral sul de São Paulo, a aproximadamente 10 km de profundidade, segundo os sismógrafos do US Geological Survey, órgão do governo dos Estados Unidos.

CUIDADOS

Procedimentos adotados pelo Corpo de Bombeiros para ocorrências relacionadas a tremores de terra:

1. Assim que se perceber o tremor, prédios devem ser evacuados usando escadas de emergência
2. A brigada de incêndio deve ser acionada para auxiliar na evacuação
3. Devem ser procuradas rachaduras em estruturas importantes, como vigas, pilares e paredes
4. O edifício não deve receber pessoas até que a checagem das estruturas seja concluída
5. O ideal é que seja feito um treinamento de evacuação nos prédios a cada seis meses

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