Dilma tenta eleger Graziano para diretoria da FAO

Às vésperas da escolha do novo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), parte do governo brasileiro desembarca em Roma, sede da organização, sem a certeza de que a primeira grande aposta diplomática do governo Dilma Rousseff, a indicação de José Graziano para o cargo, terá um resultado positivo para o Brasil. Apesar de se dizer otimista, o Itamaraty se recusa a fazer prognóstico.
Com a chancela do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma campanha intensa, que incluiu a participação não apenas do chanceler Antonio Patriota, mas da própria presidente Dilma Rousseff, Graziano parece ter boas chances de finalmente obter para o Brasil posto relevante em um organismo internacional. No entanto, com voto secreto e outros cinco candidatos, o governo considera que todas as apostas são precipitadas.
O Brasil colecionou derrotas no campo diplomático nos dois mandatos de Lula (2003-2010). Em 2005, não emplacou o embaixador Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do Comércio. Naquele mesmo ano, apresentou o nome de João Sayad para presidir o Banco Interamericano de Desenvolvimento e novamente foi derrotado. Em 2009, sofreu um revés com a vitória da búlgara Irina Bukova para a secretaria-geral da Unesco, que superou o egípcio Farouk Hosni, apoiado pelo Brasil.
Seminário e votos. Para tentar pender a balança para Graziano, o Itamaraty realizou ontem, dois dias antes da eleição, um seminário em Roma sobre ‘Cooperação Técnica Brasileira: Agricultura, Segurança Alimentar e Políticas Sociais’ para os delegados na FAO. Cinco ministros explicaram a representantes de países em desenvolvimento – especialmente na África – não apenas os programas sociais brasileiros, mas também o que o País oferece em técnica, financiamento e parcerias a outros governos.
Apesar de afirmar que o seminário não tem relação com a eleição, o Itamaraty reconhece que o público-alvo pode ser justamente quem vai decidir o resultado: os 52 países africanos, mais interessados e hoje mais beneficiados com as ações de cooperação do Brasil e que representam quase um terço dos votantes.
Desde o início o Itamaraty deixou de lado a diplomacia e usou como estratégia de campanha a disputa Norte-Sul, ou seja, países desenvolvidos versus países em desenvolvimento, batendo na tecla de que não faz sentido que um europeu, representante da região que mais investe em subsídios para o setor agrícola, dirija um órgão que tem como meta promover a agricultura dos países mais pobres.
O alvo é o principal adversário de Graziano, o espanhol Miguel Ángel Moratinos, que centrou sua campanha na ideia do quanto a Espanha contribui para as Nações Unidas e quanto um país rico poderia fazer pela FAO. No entanto, a crise econômica que abate o país e a perda de apoio popular ao governo de José Luis Zapatero, de quem Moratinos foi chanceler, animam o Brasil.
O Brasil conta com votos de latino-americanos, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, países africanos e árabes, além da Índia, China e Rússia. Nascido em Chicago, mas com cidadania brasileira, Graziano é agrônomo e ocupa o posto de representante regional da FAO desde 2006. Foi ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro ano do governo Lula.

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