Jornalista mineiro informou Janot sobre fundação ligada a Aécio Neves em Liechtenstein em março de 2015; revista Época escondeu o assunto por 3 anos e quatro meses


Aécio e a
irmã Andréa, acusada de ameaçar prender jornalista caso ele publicasse a
denúncia; Vaduz, em Liechtenstein, também era sede da Sanud, empresa de fachada
de Ricardo Teixeira; Aécio de mãos dadas com a mãe e ao lado da bilionária
Angela Gutierrez, uma das herdeiras da empreiteira Andrade Gutierrez

Neste momento, certamente, milhares de brasileiros
gostariam de perguntar ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot:
1) Por que apesar de o senador Aécio Neves,
presidente Nacional do PSDB, ter sido citado por vários delatores na Operação
Lava Jato, o senhor até hoje não abriu nenhum inquérito para investigá-lo?
2) Por que tamanha inação da PGR em relação ao seu
conterrâneo tucano, considerando o enorme passivo judicial dele, guardado nas
gavetas do Ministério Público e do Tribunal de Justiça de Minas Gerais?
Entre esses brasileiros, está o jornalista mineiro
Marco Aurélio Flores Carone, que editava o site NovoJornal, onde
publicava denúncias sobre os tucanos mineiros, especialmente Aécio, que
governou Minas de 2003 a 2010.
Em 20 de janeiro de 2014, Carone foi preso. Seu
jornal literalmente saqueado pela polícia de Minas: computadores, pen-drives,
impressoras e documentos apreendidos sequer foram relacionados.
Ficou encarcerado até 4 de novembro de 2014, no
complexo penitenciário segurança máxima Nélson Hungria, em Contagem, região
metropolitana de BH.
Detalhe: nos três últimos meses, permaneceu
incomunicável.
Mas não foi apenas por causa desses dois
escândalos.
“Minha prisão teve a ver não só com denúncias
anteriores, mas principalmente com as que eu iria fazer na sequência; uma delas
era justamente sobre a Operação Norbert e a conta da família de Aécio no
paraíso fiscal de Liechtenstein”, denuncia Carone ao Viomundo.
“Aécio, a mãe, dona Inês Maria, a irmã, Andréa,
tinham conhecimento da matéria, pois haviam sido consultados peloNovojornal,
para dar as suas versões das denúncias que iríamos publicar”, prossegue.
“O procurador-geral da República, doutor Rodrigo
Janot, sabe disso há mais de um ano”, frisa o jornalista. “Em notificação (na
íntegra, ao final
) que lhe enviei em 23 de março de 2015, dou os detalhes.”
DELAÇÃO DE DELCÍDIO: FURNAS E BENEFICIÁRIO DE CONTA
EM PARAÍSO FISCAL
Em delação premiada homologada pelo ministro Teori
Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF) e divulgada em 15 de março de 2016, Delcídio do
Amaral, ex-líder do governo Dilma no Senado, trouxe o senador Aécio Neves
(PSDB-MG) para o centro da Lava Jato
.
Delcídio fez duas acusações.
Viomundo denunciou esse esquema,
bem como a Lista de Furnas, que sustentou a campanha eleitoral dos tucanos de
2002. Por exemplo, aquiaquiaqui e
aqui.
Janot e o seu antecessor na PGR, Roberto Gurgel,
receberam diversas representações de parlamentares de Minas Gerais,
pedindo-lhes que investigasse as denúncias.
A novidade na delação de Delcídio – embora não
inédita – é a de que Aécio seria
beneficiário de uma fundação sediada em Liechtenstein, paraíso fiscal na
Europa, chamada Bogart & Taylor
.
Menos de 24 horas depois, a revista Época publicou
reportagem de Diego Escosteguy a respeito: Documentos
revelam que doleiro abriu conta secreta da família de Aécio Neves em
Liechtenstein
.
De acordo com documento acima, publicado porÉpoca,
dona Inês Maria Neves Faria, mãe de Aécio, é a principal beneficiária da
Fundação Bogart & Taylor, no Banco LGT, em Liechtenstein.
Em caso de falecimento, 100% dos seus direitos
passariam para o filho Aécio Neves.
Em caso de Aécio morrer, 50% iriam para a sua filha
Gabriela Falcão Neves Cunha, para sua irmã Andréa Neves Cunha caberiam 25% e os
outros 25% para Ângela Neves Cunha, a então esposa.
De pronto, o perspicaz Fernando Brito observou noTijolaço:
Pela extensão e riqueza de detalhes da matéria
publicada esta manhã pela Época, detalhando aos escaninhos da conta de uma
fundação “fantasma”, a Bogart e Taylor, no banco LGT, do principado de Liechtenstein,
um paraíso fiscal europeu, não foi escrita de ontem para hoje.
Estava pronta, apenas decidiu-se adaptar e
publicar.
Até porque o assunto não é novidade: Luís Nassif o
publicou em janeiro de 2015. Há mais de um ano, portanto.
Bingo. Bingo. Bingo.
Em 2 de janeiro de 2015, em A pá de
cal na carreira política de Aécio
, Nassif publicou em primeira
mão que a família de Aécio Neves havia sido pega na Operação Norbert, da
Polícia Federal (PF).
Deflagrada em 8 de fevereiro de 2007 para apurar
denúncias de lavagem de dinheiro, a PF fez busca e apreensão no escritório e na
residência do casal de doleiros Norbert Muller (daí o nome da operação) e
Christine Puschmann, na cidade do Rio de Janeiro.
(…) os procuradores encontraram na mesa dos
doleiros uma procuração em alemão aguardando a assinatura de Inês Maria, uma
das sócias da holding Fundação Bogart & Taylor — que abriu uma offshore no
Ducado de Liechtenstein.
Os procuradores avançaram as investigações e
constataram que a holding estava em nome de parentes de Aécio Neves: a mãe Inês
Maria, a irmã Andréa, a esposa e a filha.
Desde o final de 2012, a Época sabia
disso – e muito mais! –, mas nada publicou até 16 de março de 2016, após a
delação de Delcídio.
Foram três anos e quatro meses na gaveta do “não
vem ao caso”, da revista semanal da Globo.
OPERAÇÃO NORBERT: CASO DE AÉCIO É O ÚNICO AINDA NÃO
JULGADO
A Operação Norbert foi conduzida pelos procuradores
Marcelo Miller, Fabio Magrinelli e José Schetino.
Em meio ao papelório dos doleiros, eles encontraram
documentos que conduziram a duas offshores em paraísos fiscais
do desembargador aposentado Manoel Carpena Amorim, o ex-todo poderoso
corregedor do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).
Entre 2005 e 2006, sem aparecer como o verdadeiro
dono das contas, Carpena depositou US$ 478 mil no LGT Bank (principado de Liechtenstein)
e no UBS Bank (Suíça).Confira aqui aqui. 
Tanto que não declarou os valores ao Banco Central e à Receita Federal no
Brasil.
Com o desenrolar dos trabalhos, o procuradores
tiveram outra grande surpresa: a Fundação Bogart & Taylor, que abriu uma
offshore em Lichtenstein. Estava em nome de parentes de Aécio Neves: a mãe Inês
Maria, a irmã Andréa, a então esposa e a filha.
Devido a essas descobertas, eles desmembraram
o inquérito principal em três processos:
1) o dos doleiros, tocado pelos procuradores
Marcelo Miller, Fabio Magrinelli e José Schetino.
2) o do desembargador Amorim Carpena, que ficou a
cargo do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro;
3) o caso da família de Aécio Neves, àquela altura
das investigações já senador, foi encaminhado para o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, que o deixou na gaveta, como “herança”, para Janot.
O desembargador e os doleiros já foram julgados e
declarados culpados.

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